Depois do nascimento do Angelo Gabriel e conforme foi sendo a nova rotina de casa-hospital-casa, sempre pensei em fazer um blog para postar o dia a dia no hospital, as descobertas, os traumas, os desafios as vitórias.
Mas era sempre tão exaustivo os dias, tantas tarefas, tantas preocupações que o tempo passava e não conseguia botar a ideia em prática.
Pensei por várias vezes escrever pra Ana Maria Braga e contar nossa história (tah podem me chamar de piegas rs) mas era com ela que eu dialogava na minha mente e desabafava. Talvez fosse minha necessidade de contar para alguém tudo o que eu sentia, e todos os medos que me aterrorizavam e que eu não podia dividir com ninguém mais próximo , pois todos a minha volta estavam tão ansiosos e receosos por tudo que qualquer coisa que eu dissesse podia ser interpretado erroneamente, criar pânico, ou julgamentos sobre mim (por muitas vezes ouvi que a culpa de tudo o que estava acontecendo era minha), ate mesmo meu pai se achava culpado (alegando que tive uma infância difícil e por isso estava se refletindo na saúde do meu filho).
Enfim, para evitar as culpas, julgamentos, dentre outras coisas que tornavam aquela situação ainda mais complicada eu evitava dividir o que sentia com meus familiares, amigos etc.
E todo dia pela manhã antes de ir ao hospital (quando eu ainda não dormia la somente passava o dia na uti) eu ligava a TV enquanto preparava meu café e ouvia as mensagens da Ana Maria Braga, aquelas com as quais ela inicia o programa. Eram sempre tão lindas e motivadoras, era o único momento do dia que eu ouvia algo inspirador e motivador,de resto, tudo era tenso e preocupante.
Mas eu não era a única nesta pressão constante. Tinha alguém que sentia tudo isso tanto quanto eu: o pai, Rafael.
Os homens tem por regra social serem fortes, afinal: homens não choram! certo? errado.
Rafael por muitas vezes me deu ombro para eu chorar por horas enquanto eu dizia "quando este pesadelo vai acabar?", cuidou de mim noites em claro quando eu tinha crises de choro ou dores por não ter tido o resguardo pós-parto. Pois logo que tive alta do hospital todas as manhãs eu fazia uma caminhada de 4 quarteirões até o hospital ainda cheia de pontos e inchaço, para poder passar o dia ao lado do bebe, as vezes eu ia de ônibus as vezes o Rafael me levava de moto, mas era menos dolorido ir a pé.
Enfim, de alguma forma eu pude me expressar com alguém , chorar, mas o Rafa? ele nunca me disse como se sentia, mas eu via nos seus olhos as vezes.
Um dia enquanto lia pra ele um post que preparava para o blog, ele me disse que não era mencionado nos textos que para quem lia ele não fez nada.
Disse a ele que eu escrevia sobre o que eu presenciei o Angelo passar, mas isso não foi suficiente. Pedi a ele então que fizesse ele um texto falando de sua experiência, mas sabe como são os homens, deixam tudo pra depois e nunca o fazem!
Deste modo resolvi fazer eu mesma um texto, mas é claro não posso falar por ele, apenas reproduzir o que ele mesmo disse. Para isso fiz com ele uma entrevista, que pode ser conferida abaixo:
1 - Como se sentiu quando
descobriu que seria pai aos 22 anos?
R.: Senti muito medo! Era muita coisa
pra alguém que se considerava irresponsável por si só! E daí eu descobri que
teria alguém diretamente dependente de mim... Foi tenso!
2 - Como foi acompanhar a gestação e descobrir o
problema do bebe?
R.: Acompanhar a gestação foi uma
delícia. Mas quando descobri do problema do bebê, fiquei bastante preocupado,
mas mesmo assim achei que fosse algo muito mais simples do que acabamos
descobrindo ser depois do nascimento.
3 - Você acompanhava
o pré-natal?
R.: Quando eu podia ir, eu
acompanhava, mas em algumas consultas eu estive trabalhando, portanto não posso
dizer que acompanhei 100%.
4 - Durante consulta
de pré-natal você alguma vez pode ouvir o coração do bebê, como foi ouvir o
coração do seu filho pela primeira vez?
R.: Sim, eu ouvi. Nós 2 ouvimos pela primeira vez no mesmo dia, foi lindo!
Foi o primeiro momento que eu me senti pai de verdade!
5 - Na hora do parto
o que sentiu sabendo que o bebe iria para a uti sem ao menos poder ve-lo antes?
R.: Na verdade, nós já sabíamos que isso aconteceria, então não foi muita
surpresa, mas fiquei decepcionado em sair de lá sem ver meu filho.
6 - quando viu seu
filho pela primeira vez? O que sentiu ao ve-lo pela primeira vez?
R.: Vi ele na primeira tarde após o
nascimento, no horário de visita. Senti uma felicidade imensa em estar ali do
lado dele, segurando a mãozinha dele. Tudo que eu queria era trocar de lugar
com ele, pra que ele não sofresse nada do que sofreu naquela UTI!
7 - Durante a
internação do Angelo com que freqüência ia ao hospital?
R.: Não lembro se deixei de ir algum
dia, pelo que me lembre não. Até no dia em que eu me acidentei eu fui vê-lo (na
verdade me acidentei no caminho p/ vê-lo, mas fui mesmo assim)
8 - Como se sentia
dormindo sozinho em casa enquanto sua esposa dormia no hospital com o bebe?
R.: Sentia-me impotente. Queria tanto poder trocar de
lugar com ela para que ela pudesse descansar!
9 - Voce chegou a
passar noites no hospital com o Angelo sozinho, sem a presença da mãe?
R.: Sim, algumas, depois que o Anjo
saiu da UTI (e no período em que esteve no Hosp. Jardim Cuiabá, passei algumas
noites com ele lá também)
10 - Angelo fez 3
cirurgias, como foi este momento?
R.: Foram momentos tensos! Ficava
ansiosamente esperando o mais próximo que eu podia (normalmente era na porta da
ala cirúrgica do hospital), doido pra ter uma notícia do meu pequeno!
11 - Qual sua opinião
sobre a equipe medica que acompanhou o caso? (obstetra, pediatra,
neurocirurgião, enfermeiras, técnicas de enfermagem).
R.: Vamos lá: Obstetra: Gostei muito do dr. Antonio.
Achei as explicações que ele deu sobre o caso muito boas, mesmo tendo
descoberto que era muito maior do que eu imaginava dps q o bb nasceu.
Pediatra: Dos pediatras que acompanharam o Angelo no período de
Hospital, a que mais gostei foi a Dra. Maria de Lourdes, mesmo tendo ficado
chocado com algumas coisas que ela disse (que nosso filho seria um
vegetalzinho, que não iria se movimentar e tals), ela foi a que eu mais vi
correndo atrás das coisas para meu filho.
Neurocirurgião: Como todos sabem, o Anjo teve 2 Neurocirurgiões. Um que
não citarei o nome, o primeiro, se dependesse de minha vontade, hoje estaria
internado com algum problema neurológico, e tendo um médico exatamente igual a
ele para cuidar dele. Quem sabe assim ele aprende a ter valor humano. O outro,
o Dr. Roger Thomaz, é quem merece qualquer mérito por meu filho estar
bem-cuidado por dentro (cirurgicamente falando).
Enfermeiras: Eu realmente lembro pouco das enfermeiras, até porque as
mais marcantes eram as do HGU, e a época que ele esteve lá eu não acompanhava
muito pois só podia entrar nos horários de visita.
Técnicas de Enfermagem: Essas sim eu tive bastante contato, principalmente
em casa, já no regime Home Care. Angelo teve muitas técnicas, mas 4 delas se
sobressaíram: a Verônica, com quem temos (pouco) contato até hoje, a Marinês, a
Elaine e a Adriana. Estas 4 foram as melhores técnicas que o Anjo teve, em
minha opinião.
12 - Se pudesse estar
no lugar da sua esposa durante o período que ela ficava no hospital você teria
feito? Por quê?
R.: Teria, sim. Primeiro, pra passar
mais tempo ao lado do meu filho. Segundo, para que minha esposa pudesse ter um
pouco mais de descanso.
13 - O que mudou na
sua vida apos o nascimento do Angelo?
R.: A pergunta correta seria "o que NÃO
mudou", e eu acho que não tem nada que eu possa dizer que não mudou. Fui
me tornando uma pessoa mais responsável (ainda tem muito pra melhorar, mas já é
um começo), descobri o valor de cada minuto de sono, estou descobrindo, até
hoje, o que é ser pai (e cada dia mais me empolgo com isso), estou descobrindo
o que é TER um pai, entre várias outras coisas.
14 - Como foi receber
alta do hospital?
R.: Foi uma maravilha! Apesar de
saber que iríamos sair de uma prisão hospitalar para uma domiciliar, só de
saber que eu iria ter meu filho em casa, já era fantástico!
15 - Qual foi o
momento mais dificil desde o nascimento do Angelo até os dias atuais?
R.: O momento mais difícil, pra mim, foram os dias
antes da última cirurgia: A correria atrás daquele maldito neurocirurgião
estrelinha, o sofrimento do Anjo (e nosso por tabela), entre várias outras
coisas.
16 - Qual sua
opinião sobre o home care e os profissionais que fazem atendimento.
R.: O regime de Home Care em si é
muito prático, pois tem-se todo o atendimento necessário dentro de casa, sem
precisar ir ao hospital todo dia e muito menos ficar internado. Quanto aos
profissionais, varia muito: Há bons profissionais, como a equipe que atende o
Angelo hoje, mas também há pessoas que se aparecessem na nossa porta de novo,
nem deixaríamos entrar.
17 - Quando de fato
se sentiu pai?
R.: Acho que vesti o uniforme de pai
no momento em que segurei o Anjo pela primeira vez no colo.
18 - O que o Angelo
significa pra você?
R.: Força de Vontade, valorização de
cada passo dado, carinhos, beijos, mordidas, risadas, Pocoyo, noites em claro,
dengos... e uma felicidade imensa em ter aquela coisa gorducha na minha vida!
19 - O que teria
feito diferente para o bem do angelo, se pudesse voltar no tempo?
R.: Não teria cometido erros que me
fizeram passar alguns dias sem quase ver meu pequeno.
20 - Qual seu recado
para os casais que se preparam para ser pais e mães, ou que tem filhos
especiais?
R.: Futuros papais e mamães: Gente,
ser pai assusta. Mas é o susto mais gostoso de se ter na vida!
Pais de Crianças especiais: Meus parabéns, vocês foram
abençoados com uma criança que dará muito mais alegria que qualquer outra, e
mostrará a vocês o valor das pequenas coisas!